segunda-feira, 28 de maio de 2012

SAUDADE X SAUDADES

                 
Está ficando cada vez mais difícil colocar a palavra saudade em meus textos. Não que eu não consiga a palavra, simplesmente, mas ela me retrata a outras tantas situações, que acabo me perdendo na primeira vez. Se me lembro de alguém querido, como meu pai, sinto saudade não só da sua presença, mas de seu carinho, os conselhos, sua postura diante da vida que deixaram tantos talentos em alerta.
Pegar a foto de uma viagem me traz, além do local, o cheiro das flores, o despertar daquele dia, as risadas que demos, a despedida prevendo a volta o mais rápido possível.
E quando tiro o casaco para tomar sol, antes que o frio me faça usá-lo mal cheiroso? Aparece a vitrine, o preço que não me deixou levá-lo, a espera ansiosa para a liquidação, a minha amiga que me acompanhou para que eu decidisse se seria melhor levar o preto ou o marrom e depois desembalar o grande pacote e guardá-lo no armário para o próximo inverno.
E tudo é saudade guardada com os máximos detalhes. São lindas saudades. E relembrar todos eles, sabendo que hoje, provavelmente, seria diferente. Afinal, não sou mais aquela daquele cenário. Modifiquei porque esbarrei em tantas lições, fiz pesquisas, andei e vi, chorei muito e hoje sorrio do que fui.
Uma saudade remonta a tantas outras saudades que se agrupam num rápido momento, seja ele suave, triste, alegre ou supostamente criado para complementar mais um dia.
A mente nos devolve toda a nossa vida em caixinhas que se abrem assim, de repente. São frascos mágicos, que exalam perfumes adocicados, capazes de devolver nossas alegrias, novas esperanças e sonhos. E a qualquer momento se repetem como novos presentes em feitio de grandes surpresas.
Helyete Santos

domingo, 27 de maio de 2012

APENAS UM TELEFONE

    
É só um aparelho comum, deixado de lado num canto da sala, sem grande importância, até porque a tecnologia deixou os celulares em primeiro lugar. Por isso, aparece meio tímido e passo por ele sem grandes saudações, já que o vejo velho e acabado. Não que não tenha me dado grandes notícias, mas as melhores espero agora, num momento confuso, tão pequeno e tão grande porque ele ainda toca e assim, meio confusa e desatenta, ele resolve soar como nos velhos tempos.
Só que já fazia muito tempo e, de repente, ouvi sua voz.
Meu corpo amortece. Fiquei meio extasiada, meio sonâmbula, meio. Parecia não estar ali.
A voz era... ele. Perguntava e eu respondia. Aos poucos fui me reportando ao momento que vivia e senti a distância de tanto tempo, presente. Era o que eu mais queria durante tantos minutos, contados segundo a segundo.
Passei, com muita dor e saudade em minhas palavras um choro honesto, deixando alegria, e muita alegria ao ter sido lembrada.
Mesmo sem grandes expectativas de poder voltar a abraçá-lo e acordar com seus beijos, volto a contemplar a tecnologia, ainda que antiga, num canto da sala, esperando tocar e a voz soar novamente em meus ouvidos. Apenas aquela voz, traduzindo o que vivemos, aprendemos e trocamos. Fizemos a nossa história um dia.
Helyete Santos

terça-feira, 22 de maio de 2012

TÁ TÁ TÁ

                   
Acredito que não há momento mais inadequado para fazer negociações do que aquele que sabemos que o outro não se encontra preparado para negociar. Só é o melhor quando sabemos a resposta que queremos.
Na hora de sair para o trabalho e, principalmente, quando já se está atrasado, a ira junta-se ao momento de nem saber qual o botão do elevador se quer apertar e fica pior então, quando a vizinha, aquela que, insuportavelmente, leva os três cachorrinhos para darem uma volta e rosnam em torno de nossas pernas, também estão no elevador. Que coincidência!
E aí, amorzinho, posso comprar o que eu pedi? Eu preciso, você sabe!
E lá vai o: tá, tá, tá.
Na realidade, esta não seria bem a resposta, assim como, ao estacionarmos na porta do colégio, bem do lado de fora da porta do nosso carro, quando o guarda já se dispõe a pegar o caderninho para anotar a placa e o garoto avisa: vou voltar com os meus amigos e vamos ao shopping.
Qual seria a resposta mais indicada para ele? Tá, tá, tá!
Parece, então, que o que acontece não é a série de “tás” mas o processo que nos fez aceitar a decisão de concordar. É assim que manipulamos outros processos para que as respostas se tornem adequadas para o que queremos que seja favorável a nós.
Bem, a resposta com os “ tás” é o que mais nos deixa felizes pelo sucesso alcançado, o que vem depois do cartão, as compras, ou o passeio no shopping... deverá conter outros tantos, e muitos questionários para a próxima conversa em família. E haja respostas! Pelo menos, tempo, haverá!
Helyete Santos

terça-feira, 15 de maio de 2012

ATESTADO DE CULPA

Atestado de Culpa
Estamos na era do falatório, onde muitos falam muito, mas nem todos conseguem dizer o que é preciso ser dito e no momento certo.
É tão real esta proposta que nos sentimos amigos de tantas pessoas e fazemos companhia a elas, mas ao mesmo tempo sabemos que, ao lado delas, só dizemos o que elas querem ouvir e este é um padrão fácil de se estabelecer como amizade.
No entanto, difícil é ser amigo todas as horas e dizer a verdade e sempre a verdade. Ainda mais: dizer com confiança no que se pode e deve dizer.
Dá trabalho porque envolve a sensibilidade e a astúcia para que nada magoe seu parceiro e para que ele se sinta confiante em tê-lo como amigo e lhe retribua com sinceridade toda a oferta prestada.
Tudo o que se quer dizer tem um tempo marcado com uma validade não processada, sem códigos, nem referências. Simplesmente precisa ser dito. E antes que o outro se vá. E como dizia meu primo (Mauro Ballarine) as ações falam por si.
Atestar a própria culpa não é o suficiente. E todos sabem disso. O benefício da sinceridade traz a paz envolvida em razões que nos deixam felizes por termos, de alguma forma, feito o que deveríamos fazer.
Helyete Santos

sábado, 12 de maio de 2012

MÃES ENTRE ERROS E ACERTOS

                          
Como mãe, entre todas as mães, fico comovida pela presença de todas as que abençoam seus filhos em preces profundas; as que desejam a conquista da paz como glória divina alcançada desde a concepção estendendo-se para sempre; as que respeitam os limites de cada um, sabendo que eles fazem o máximo do bem e para o bem; as que choram pela ausência, pela partida, pelos erros, pelas vitórias.
Não importa como posso me enquadrar. Que mãe sou eu? Só sou!
Ser mãe me traz a alegria de ter sido aplaudida pelo Universo.
E, entre esses aplausos que ecoam para todas nós, sejam aplaudidas também todas as mulheres que quiseram ser mãe um dia e não puderam,não importa o motivo, e aquelas que desejam ser.
Nossa missão é não desistir e fazer valer a pena a oportunidade mais bela: a vida.
Helyete Santos

quarta-feira, 9 de maio de 2012

MULHERES QUE SE DESCOBREM

Mulheres que se descobrem
Algumas mulheres passeavam num shopping de Minas procurando se distrair. E que distração! Mulheres num shopping! Nada melhor: compras! Enquanto uma companheira entrava numa e noutra loja, comparava os preços, os modelos novos, a outra só observava como esta amiga se comportava: eram sorrisos e frases alegres e, mesmo assim, não comprava nada.
Com o passar dos dias, descobriu que as atitudes de sua companheira eram, definitivamente, as mesmas. Transpirava alegria.
Em meio às comparações, via-se como uma mulher idosa no sentido mais pleno da palavra. Tinha olhos somente para a família e não estava conseguindo ver um vestido novo há muito tempo. Aliás, o último foi comprado para o batizado de sua neta.
E por que razão as coisas se tornaram assim? Mulheres que se escondem, um dia descobrem e se descobrem como as temerosas da vida. Aquelas que deixaram de lado o prazer que só a alegria interior é capaz de proporcionar seja ele qual for. E voltam com a força de uma supermulher para reconquistar o que talvez um dia perderam por aí ou jogaram fora.
Olhou-se no espelho e resolveu tirar a máscara que usava. Sorriu e riu. Gargalhou de si e viu aquela que estava escondida. Chamou a companheira feliz e voltaram ao shopping para tomar um café. Daí, concluam o que se pode concluir...
Helyete Santos