sábado, 31 de março de 2012

QUESTIONAMENTOS

Muitas e muitas vezes perguntamos para nós, como se fôssemos o outro, aquele que poderia nos dar grandes respostas, o que estaria acontecendo comigo.
Parece que num instante qualquer não nos reconhecemos e passamos a nos sentir desconhecidos de nós mesmos.
Como fomos capazes de tal reação se nunca admitimos no outro e, de repente, fazemos igual?
Assim como isto acontece individualmente, um dia perguntamos ao outro, aquele que está comigo há tanto tempo:” O que está acontecendo com a gente?” Parecemosestranhos um ao outro. Não mais digo o que ele gostaria de ouvir e não mais ouço o que ontem ele me dizia com as entonações que só eu compreendia.
É. Eu compreendia seus passos, seus abraços pesados sobre meus ombros, suas rugas enfeitiçando seu sorriso, sua respiração na noite de amor naufragada nos desejos que só nós sabíamos corresponder.
Alguma coisa mudou. Bem, a resposta eu já tenho. Só não sei o que mudou.
A gente acha a resposta facilmente, colocando no outro a ação que não poderia ter mudado, mas esquece que, nesta situação, mudamos também. É próprio do ser humano a transformação, mas aconteceu e eu não percebi. Ou não tive a coragem de perceber.
O que aconteceu com a gente deve fazer parte da humildade de se observar e aceitar o que acontece com a gente hoje. E vai continuar acontecendo. Serão temas para a nossa história. E, se quisermos, a gente fica acontecendo.
Helyete Santos

quarta-feira, 28 de março de 2012

CENAS QUE SE REPETEM

Nem sempre as aparências enganam. Afinal, seria muito teatro fazer as cenas exaladas de tanto carinho para um público que não via, nem aplaudia os atores.


O fundo eram bancos de um consultório médico, onde um casal de idade bem avançada aguardava sua vez para o atendimento.


Ele, um homem bem vestido, apoiava-se numa bengala e ela simples, numa saia e blusa quase coordenadas. Comparavam suas receitas e não se davam conta de que eu os observava.


Num certo momento ela começou a acariciar a manga da camisa dele, com tanto carinho, que me comoveu. Era como se ela quisesse passar as mãos em todo o seu corpo, mas como não era possível, só aquele espaço já lhe era suficiente. Suas mãos corriam presas ao espaço pequeno e seus olhos mergulhavam amor e esperança.


Logo ele foi chamado e ela também, mas para salas diferentes. Minutos depois retornaram, conferiram suas receitas, entreolhando-se com carinho e deram-se as mãos. Não é preciso dizer que partiram de mãos dadas, a passos pequenos, ignorando toda a plateia.


Tive vontade de aplaudi-los. Mostraram que a vida deles só interessa, de fato, a eles. Sem bandeiras, sem alardes de conquistas, nem brasões de importância.


É fato que devem ter tido muitas dores e infortúnios, muitos amores e grandes dissabores, muitas cenas de sonhos maravilhosos e choros de arrependimento. Mas o importante é que continuam as cenas de amor.




Helyete Santos

segunda-feira, 26 de março de 2012

O QUE É PRECISO MUDAR

Na conscientização das mudanças aprendemos e vemos à nossa frente que as nossas verdades nem sempre foram verdades, nem sempre foram conquistas para a felicidade, pois o que era meu: meu espaço, meu amor, minha crença, meu tudo, torna-se esquecido pela própria mudança.


É fato que, para que isso aconteça, muitos tempos tem que passar e muitos espaços tem que se transformar. O que mudou lá fora acrescenta a mudança aqui dentro de nós, seja com maiores riquezas ou dores de invejas de nós como éramos ontem.


Se hoje não somos mais, não podemos nos apegar às visões do passado que não está presente.


Somos o que a vida nos empresta para viver, mas somos o que somos dentro do nosso aprendizado. Aquele que sabe mudar de acordo com as perdas e com os ganhos, sem se prender ao que foi, sem viver o que ainda não foi.




Helyete Santos

quinta-feira, 22 de março de 2012

ESPERANDO ACONTECER

ESPERANDO ACONTECER


Parece que expectativa demais mata. É o que a gente sente ao esperar que as coisas aconteçam, aquelas que não estão em nossas mãos, que não podemos tomar conta, como a chuva num dia de festa, ou o vestido que não ficou do jeito que queríamos, e o mais esperado beijo que teríamos de receber após o encontro marcado. Mas só houve um abraço fraco, quase um bater de corpos, sem querer, nas ruas entulhadas de gente ao sair do trabalho.
O coração bate mais forte do que deveria. E continuamos esperando. A mulher tem sempre muito mais expectativas do que o homem. Sonha mais e mais alcançar seus sonhos. E não se dá conta de que eles são só seus.
Despeja-os no fundo de uma gaveta e não mexe mais neles por um bom tempo, até que ouvindo uma melodia , sentindo uma fragrância, acariciando uma camisa, abre a gaveta e pega o pacote e se vê novamente com o momento embrulhado, aquele esperado que ficou sem resposta, nem nada.
Se tudo pudesse recomeçar, seria melhor em iguarias, em laços, em frases preparadas que não foram ditas adequadamente, mas que hoje seriam. Sim, seriam ditas sem vocabulário preparado. Só com expressões do coração. Mas ainda nos perguntamos se aqueles ouvidos estariam prontos para nos ouvir, se entenderiam e responderiam com afeto.
Nada que esperamos tanto pode nos oferecer grandes presentes se a alma não estiver presente. Sem cálculos nem previsões. Simplesmente um encontro sem ser procurado. E nos sentimos adormecer, sem um cântico preferido, ouvindo apenas a voz do coração que quer mais vida, que continua esperando acontecer.
Helyete Santos

sábado, 17 de março de 2012

QUALQUER PRONOME INDEFINIDO

Há dias que observo qualquer como uma das palavras mais expressivas e expressas no nosso vocabulário, exatamente por não ter qualquer significado e qualquer um de nós poder jogá-la ao vento a qualquer hora, porque sempre precisamos de qualquer outro ouvinte que nos sugira qualquer coisa, mesmo que não tenha qualquer sentido.


Qualquer coisa é melhor que nada. Frase de grande sabedoria para muitos que vivem de poucas coisas e acrescentam qualquer coisa aqueles com quem convivem. Afinal, o que é o melhor pra mim pode não significar nada para você.


Mas continuamos submissos a um qualquer movimento para não lutarmos por uma causa justa ou não nos lançarmos a um perdão, um abraço fraterno, ou mesmo abrirmos a porta de casa para o inimigo transformar-se em amigo constante.


Esse qualquer invade a nossa alma e, de repente, nos transformamos em um ser qualquer, capaz de perder toda a sua autoridade perante a vida e deixar escapar de si todas as glórias que sonhou, sem qualquer diretriz . Somos, de fato, um qualquer, pronome indefinido. Porém deixarmos nos substituir por outro, visto por nós como qualquer um que não éramos até poucos momentos atrás...


Mesmo nos momentos mais difíceis, temos todos os nossos recursos interiores para podermos sobreviver, e sempre com garra. Ela existe e pode transformar as atitudes.
É preciso querer e determinar essas novas atitudes.
Somos culpados por qualquer mudança absurda que venha a massacrar o que antes era uma linda semente em projeto para ser um lindo jardim colorido. Mesmo sendo ainda apenas uma semente, somos capazes de tudo o que acreditamos e trabalhamos para mudar.




Helyete Santos

quinta-feira, 15 de março de 2012

SÓ UM BATOM

Só um batom

A gente se olha no espelho e parece que sempre falta alguma coisa. E é verdade. Falta um toque no cabelo, um pouco mais de sombra no olho direito e... o famoso batom.


Mais vermelho ou um simples toque de brilho faz acender os lábios que já partem conosco para serem vistos, apreciados e fazerem parte da conquista do novo encontro, seja ele o primeiro com um novo homem, ou o milésimo sétimo que reverenciamos ao mesmo homem.


E o batom marca, com beijos devorados pelo desejo, o calor da vida mais uma vez entregue ao outro. Sem percebermos que sua dimensão é capaz de ocupar o Universo. A força e a garra da doação escorrem pelo corpo traçando um caminho bem-vindo aos corpos envolvidos, mancha camisas e laços, faz cheirar a pele inteira, vê e vive fantasias, deixa o tempo escoar sem marcar no relógio, nem medir seus espaços.


Simplesmente acontece deixar marcas tingidas.


E, num dia qualquer, mexendo na bolsa, durante a fila imensa de um Banco, a gente procura uma moeda pra juntar ao pagamento e, entre os dedos ansiosos, encontra o tal batom. Prende-o nas mãos e... começa a sonhar o que ele um dia foi capaz de lhe dar.




Helyete Santos

segunda-feira, 12 de março de 2012

OS OLHOS DA BELEZA

Muitas mulheres queixam-se, por aí, das gordurinhas e rugas que aparecem e deixam sua beleza menor do que era antes.

Bendita juventude! Época das gloriosas conquistas através da beleza representada pelos espelhos espalhados pelos cantos da casa, nas ruas, nas salas de aulas.

Mas, entre tantas lindas jovens e crianças, também, muitas sentiam-se tristes perante suas colegas por saberem-se menos bonitas. Algumas perguntavam a eles, os espelhos malvados, porque não foram feitas mais belas como as demais.

É assim que muitas, até hoje, procuram atacar a beleza da Vida, como se nada pudesse acontecer de bom e não a encontram dentro de si para exaltá-la ao mundo.

E, na insatisfação perante a Criação Divina, querem a beleza de outra mulher para se tornarem bonitas, sem a conscientização de que: você é só você e a outra não é você.

Na realidade, o que faz uma mulher mais ou menos bonita vai muito mais além do que a ponta do nariz mais achatada, as unhas arredondadas, os cotovelos muito bicudos, os cabelos encaracolados, os seios maiores, o tom de pele e tantas outras irreverências perante o que temos ou o que não temos. A versão da beleza, está na somatória do que se tem para mostrar e para conduzir com a ternura, a compreensão, o caráter, a paz interior, a aceitação e a própria alegria da Vida.

Cuide-se, é claro, mas faça de cada instante a historia da beleza de viver.

Helyete Santos

quinta-feira, 8 de março de 2012

UMA NOVA DESCOBERTA

E inventaram um dia só pra nos.
  Sentimos a importância e paramos nesse instante para identificar a mulher que existe dentro de nos, se e' que há apenas uma. Acredito na cordial, feroz, menina, adulta, na vovozinha
 dos tempos de outrora, na independente, submissa, profissional, grandes criadoras e tantas outras. Assumimos a diferença e nos modificamos na hora que for preciso, sem planejar.
  Vamos compartilhar hoje a nossa identidade. Afinal, somos modelos de mulheres que assumem o momento da fragilidade com a forca, a ternura e a magia da Vida.
  Fazemos parte do clube de mulheres idênticas que são diferentes em tantas que uma só abriga.
  Somos desejosas de toda a forca do Universo para fazer valer a conquista da felicidade que um dia sonhamos e hoje mantemos, para dizer que há sempre um novo dia, e uma nova descoberta dentro de nos.

Helyete Santos