quinta-feira, 26 de abril de 2012

A VITRINA DOS HOMENS



Desde que ter carro tornou-se status para a sociedade, passamos a querer os carros e a tê-los como referência aliados aos sentimentos.
Antigamente, aos sábados, na rua Augusta, as paqueras corriam soltas e eram divertidas. Os rapazes faziam pinta de galãs dentro de suas possantes máquinas conquistadas com muito trabalho ( pelo menos a maioria deles) e, quando saiam de seus potentes carrões, quase sempre não eram o que pareciam ser dentro deles. A dúvida e a ansiedade também percorriam aqueles encontros. Dois desencontrados que poderiam se esbarrar por lá e serem felizes para sempre.
Não adianta. O tempo passou mas as propagandas focam cenas onde as mulheres querem saber o que um possível namorado faz, aliado ao carro que tem. E aí já dá para prever um futuro marido, mesmo sem conhecê-lo.
Tudo acaba girando em torno de uma bagunça sentimental que abriga as chamadas finanças. E digam que isso não acontece com você, eu acredito, mas acontece com muitas de nós. Então, o homem só tem valor se chegar com aquele “automóvel” apontado nas revistas como o top de linha.
Já está na hora de acabarmos com esta visão tão desmedida a nosso respeito, uma vez que não precisamos ser interesseiras uma vez que lutamos tanto para chegarmos às nossas conquistas. E chegamos.
É necessário dizer que os homens não precisam de vitrinas. São seres de todo respeito e não podem mais serem vistos somente como provedores e sim, por inteiro: inteligência e capacidade; esforço e competência; sensibilidade e equilíbrio.
E, a todos que andam pelas ruas à pé, de metrô, de ônibus, de moto, podem também conquistar seus sonhos sem precisarem mostrar o que tem para agradar a quem quer que seja. A dignidade se faz com as conquistas do bem pelo bem. É a vez da integridade.


Helyete Santos

sábado, 21 de abril de 2012

A PERMANÊNCIA DO AMOR

Encontrei um dia desses um professor de metafísica e discutíamos sobre o amor que vive e o que morre. Aquele que dizem desabar, que nunca mais vai existir. Será? Mas não só dizem, eu também estava passando por esta fase e me fazia muitas indagações.
Uma grande parte das pessoas acha que, quando se rompe um relacionamento, o amor termina também. É como se dentro de nós não ficasse mais nada. A não ser um vazio. Uma cratera de rua que todos evitam passar por perto e se enojam do visual: feio, sem razão de lá estar, só incomodando aos passantes. Assim, alguns de nós fogem de dizer alguma coisa, mesmo narrar uma pequena lembrança.
O amor acabou. Nada mais me interessa, nem ninguém. Fico com a imagem de que estou só com tudo o que me basta. E este basta se encerra comigo.
Se deixarmos aflorar um pouco desse basta, veremos que o sentimento não acabou como pensamos. Ele continua existindo como tudo que existe, como a roseira sem rosas, mas bastando por si no momento em que volta a florescer. É só deixar que a vida deixe se envolver pela própria vida e tudo irá acontecer.
Será como a luz de um novo dia, mesmo com o sol escondido por detrás das nuvens.
Resolvi, então, falar comigo num diálogo sincero, sem demagogias, de verdade. Senti que havia algo dentro de mim que gritava bem forte e que me fazia sentir que de fato o amor não havia me deixado. Só eu é que não conseguia identificá-lo, e me punia, me agredia.
Tudo o que está conosco continua como dádiva dos céus. Só modificamos as vitrines. Outros encontros virão, se deixarmos, é claro, mas o amor que tenho será o meu amor. Aquele que saberá identificar um novo amante e acrescentará novos aprendizados.
Portanto, é bom ouvir aqueles que têm muito a dizer e que sabem te ouvir.

terça-feira, 17 de abril de 2012

FRACASSO E SILÊNCIO

Os relacionamentos que estão à espera de que algo aconteça parece que se envolvem sempre no silêncio, como se falar antecipasse o desfecho. Assim como ouvir músicas de amor trouxessem a angústia do que não se sabe que está errado, mas está.
O medo de dizer algo que não deveria ser dito deixa expandir o desespero da expectativa. Parece que, se o outro disser ficará mais fácil, trará um outro recurso bem mais acessível para a inadequação da minha postura. É tudo aquilo que não sei dizer, nem soube demonstrar.
Diante do papel escolhido, prefiro não preferir, porque aí terei que tomar uma postura e um dia outros poderão saber e me dirão que eu errei, que não deveria ter agido assim e é melhor ficar tudo do jeito que está. As vozes que falam baixinho chegam a todos os ouvidos e é como se eles decretassem a prisão de mim, dentro de mim.
O medo da mudança me traz uma enorme inutilidade perante a vida. Sinto que o fracasso tomou um pedaço do meu ser, da minha vida. É como se não tivesse mais inteligência e o sucesso tivesse fugido entre meus dedos. Escapado a minha vitória.
Deixar como está fica um pouco mais fácil. Deixar para amanhã me traz a expectativa de uma mudança que sei que não vai acontecer, mas também a decisão não será minha.
Espero a força do outro aqui no meu canto, com a minha inutilidade, sentindo bem mais o meu fracasso, presa ao meu silêncio.
Helyete Santos

segunda-feira, 16 de abril de 2012

NOVOS LINDOS SORRISOS

Há algum tempo atrás eu não acreditava que as pessoas pudessem se identificar assim, de tão longe.
É, eu estava errada. Vejo que a tecnologia veio para ajudar os homens solitários. Para adverti-los que, mesmo de tão longe, podem se encontrar, dizer dos seus objetivos, das suas dúvidas, das suas riquezas essenciais.
Muitos sorrisos agora se estampam nos rostos e fazem deles o palco da esperança, da solicitude. A voz modifica, se caracteriza com a alegria. Até as gargalhadas não ouvidas há tempos, agora são constantes. As novidades de simples beijos enviados pelo Skipe, ou digitados pelas madrugadas do outro lado do mundo são contados com euforia.
Novas conquistas que não tinham esse objetivo se transformaram pelas almas carinhosas que se encontram, dão as mãos e dizem que, em breve, cobrirão seus corpos de beijos sentidos pelos arrepios, pela conquista e entrega em agradecimento ao Plano Maior de ter concedido o encontro que estava marcado.
O medo do desconhecido será o novo descobrimento que o mundo precisa se identificar. Disseram grandes filósofos, cientistas, poetas, que o homem precisa, antes de mais nada, se descobrir e dar a si mesmo a oportunidade da vida. Acredite: o espaço não serve de barreira. E está provado.
Helyete Santos