quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

UM GRITO DE MULHER

                                                               

Uma mulher gritou muito alto e todos puderam ouvir:
- Um dia você ainda vai se arrepender! Você vai me dar valor!
Que arrependimento será esse que todos nós, ouvintes, torcemos para que aconteça? E o silêncio se faz.
Repetir quantas vezes tiver fôlego para fazê-lo não irá fazer o passado voltar. Nem assim ele irá deixar de sair de casa e esquecê-la.
Tudo acontece sem perspectivas de um novo acontecimento que faça os dois continuarem a vivenciar o que um dia se dispuseram fazer acontecer, mas acontece.
Por mais que a mulher queira dominar a situação ou se rebaixe para que tudo fique como era antes, o assunto está decidido e a frase dita, fazendo todos os ecos penetrarem em ouvidos desconhecidos que sofrem no exato momento a dor da separação.
Naquele momento, não há mais mãos acariciando, ouvidos pronunciando palavras de amor. E o encantamento acaba de sair pelas quatro paredes e somente repercutir: vingança.
Helyete Santos

domingo, 11 de dezembro de 2011

ACABO DE CONCLUIR

                                                    


Os meus hábitos nem sempre estão de acordo com as minhas necessidades.
Uma mulher criança está na lembrança dos dias felizes. Nem sempre delimitados, com descrições perfeitas. Os laços dos vestidos,muitas vezes não combinam com os tons impregnados do tecido, mas era assim que vestíamos os vestidos com renda nas golas e saias de pregas abaixo dos joelhos.
Hoje, muitas de nós, sentem-se incomodadas ao se olharem no espelho: os laços continuam não combinando com os vestidos.
Nós nos deixamos vestir sem a graça da esperança e sem o limite da alegria.
Fazer o que não se tem vontade, o que não se acredita, desfaz o gosto de tudo e tudo parece romper em medos e tristezas. São medos que estão nos atos que não fazem o melhor que se pode fazer.
É assim que, coberta de orgulho, a mulher mente a si mesma e sai pelas ruas ostentando brilhos para disfarçar a macabra febre de existir.
Lógico: quem não se encontra, não encontra a alegria que a Vida esparrama sob nossos pés.
E os laços prendem, amarram, incomodam. Caem e se relaxam. São pisados. E não fazem mais parte do vestido.
Sentir-se assim é deixar de viver o momento mais precioso que a Vida oferece.
Se, por estar sozinha, mesmo com filhos, marido, e todos os amigos à volta, faz parte do teu cenário, é hora de trocar o laço e ainda: tirar o vestido. Cobrir-se, só de glórias e conquistas, como aquelas que, quando criança, abriam-se para o Universo das gargalhadas: puro prazer de fazer o que se quer e quando se quer.
As necessidades existem, mas podem ser manipuladas e tratadas como o exercício do alcance ao prazer.
A Vida nos dá, como mulher, a menina de lindos cabelos, esvoaçando ao vento ameno, caminhando com os pés leves sobre o caminho do bem; elevando as mãos e carregando a força da própria Vida.
E o vestido?
É lindo!
E o laço?
É maravilhoso!
Mas...se quiser, mude!
Helyete Santos

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

NA SOLIDÃO

Vamos deixar de lado os medos e as carências, se assim quisermos.
É fato que, no passado, ainda bem pequenos, nos deixavam trancados em quartos
( muitas vezes escuros ) e o legado aí está: medo de ficar sozinho e de todo o escuro que não
se configurar como falta de claridade. Nossa! Que escuro será esse?
Com isso, então, é preferível estar acompanhado. Mas será só isso?
Diante de tantos medos vem o da solidão, que para muitos torna-se pavor. Então a vida fica
aliada a um futuro que tem como meta não ficar só.
É assim que muitos fazem de tudo para manter amigos que chamam de “leais”. Só para tê-los
como parceiros, simplesmente alguém ao lado.
A solidão engaveta desenganos. E engaveta a coragem para um novo dia.
Convivemos muito bem sozinhos se temos a própria “vida” como companheira. Ouvir
uma música, enfrentar um computador, ler, fazer um prato diferente para o almoço, equilibrar
a xícara de café, dizer alô, cumprimentar alguém sorrindo são excelentes referências
ao ato de estar só, e estar bem.
Asolidão reina também nas grandes festas, onde não se dispõe do companheirismo verdadeiro, não sentimos nenhum olhar, nem palavras aos ouvidos.
E nem ouvidos para dizer aquilo que o coracão poderia e gostaria de revelar.
Preparar as flores para a grande primavera revela o que basta para ser por inteiro.
Somos o tempo. Somos tudo e bastamos para a vida.
Importa a própria forca da vida para deixá-la seguir e sentir que podemos emergir com
alegria.
Estar só é apenas um momento de legado que facilita a reflexão de, em outros momentos
juntos, viver a intensidade do próprio momento.
Helyete Santos

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

SÓ PACOTES DE BOLACHAS

Só pacotes de bolachas
É verdade. O tempo passa e torno-me mais atenta aos mais velhos.Observo suas fisionomias, por exemplo dentro de um supermercado, cercados de criancas correndo, chorando, mulheres confidenciando, gargalhando, homens atentos às listas de produtos ,mas eles não mudam.
Muitos trazem a expressão de mágoa contida, passando por labirintos que lhes oferecem conquistas, mas sentem-se impotentes.
Assim observei uma senhora com suas compras penduradas em seus bracos e que deixava dois pacotes de bolachas para trás sempre que a soma ia aparecendo na tela.
Suas mãos, às vezes tremiam, na inseguranca do desejo. Afinal, vai dar ou não?
Olhava para os pacotes como se estivesse se despedindo de alguém muito querido. E foi o que aconteceu.
Seus trocados se acabaram. E ficaram ali, frente à pergunta : Não vai levar as bolachas?
O desejo do doce para amenizar uma terrível fome. Em sua cabecinha deveria ouvir mais uma vez...isso não é necessidade, da outra vez eu compro e como.
Durante quanto tempo assistiremos a cenas tão tristes como esta: a pobreza disfarcada.

Helyete Santos

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

ACEITAR OS ACONTECIMENTOS

Admitir as perdas é assunto para longas páginas.
Assumimos desde muito cedo, bem pequenos ate', que temos e devemos deixar para longe dos nossos olhos e mãos, pecas queridas e preciosas
de nossas conquistas, como a fralda, por exemplo.
A principio, não faz nenhuma diferença. Afinal, é só um treino para uma conquista, um degrau a mais no nosso aprendizado.
Pode parecer uma reunião de lobos interferindo no que chamamos de nosso. E é tudo sempre para o nosso bem, para as nossas futuras conquistas.É o que eles dizem .É sempre o que eles dizem e o que temos de ouvir e aceitar.
Assim, com o passar do tempo, depois de muitos treinos, onde nos sentimos até muito afins com os lobos, passamos a fazer parte de reuniões secretas com nossa alma e decidimos, só entre nós, deixar tantas coisas, se é que podemos chamar de coisas.
Acordar e agradecer a Deus pelo dia, com metas e atitudes bem elaboradas, ainda acrescenta muitos valores na nossa vida. Então, é só continuar.
Num dado momento, quando a perda é muito densa e sombria, percebemos que não aguentamos mais a parceria.Fomos fieis a seus mandos e mandados, mas
nada pode ficar tão descompensado que não possa ser mudado.
Talvez as lembranças de um passado com cenas felizes nos traga a forca necessária, ou olhar pela janela, arrumar um armário, ler um e-mail,ou voltar-se bem pra dentro daquele rombo de magoas, rir delas e assumir que hoje é um novo dia.
Assim, as perdas serão aceitas como divinas comédias, paradas que demos diante de nosso tempo.
Os ciclos se estabelecem à nossa frente como uma prova que faremos na escola, para um diploma necessário à profissão que escolhemos que, aliás, temos certeza que nos trará muito prazer.E mais um acontecimento constata que, muitos daqueles que julgamos perversos para nós, são causas de um novo dia, de um novo tempo. Uma nova etapa, com novos objetivos, novos compromissos, novos aprendizados, novas alegrias.
Aceitar é tarefa árdua, porque requer mudanças. Quando constatamos que não há mais o que fazer, mudamos a tarefa e trabalhamos com outra e por outra.
Mas só quando não der mesmo. Só quando a certeza estiver dentro da sua visão divina de ter feito tudo o que poderia fazer.
Como disse um colega de trabalho outro dia -Não dá mais? Vire a página.


Helyete Santos
           

O TAMANHO DA TUA VIDA

O TAMANHO DA TUA VIDA






Parece que, para possuirmos o conceito de sermos bem sucedidos, valem apenas duas palavras: grande ou pequeno.
O termo médio, é lógico, existe, mas para definirmos com precisão, só eles devem ser utilizados.
Muitas vezes nos dispomos a uma prova sutil para continuarmos a medir o tamanho da Vida. Paramos frente a um espelho
e nos damos conta de tudo à nossa volta e nos sentimos rodeados de um público que anota, grava, filma e sente nossos desejos: grandes ou pequenos?
Não dispomos de um momento certo e adequado, são quase todos medidos e avaliados para recebermos o diploma de grande ou pequeno.
Não me pergunte de qual especialidade este diploma é válido. Vou, no entanto, me deixar levar e, para isso, quero ter sempre o melhor.Melhor quer dizer ser única, sem comparação, excepcional, grandiosa e grande.
O conceito de pequeno parece que só é válido quando não conseguimos realizar nossos desejos. E eles tornam-se pequenos, assim como nós. Quase invisíveis perante a Vida.
O meu amor, a dor que sinto; meus pais, a família e amigos; o carro que possuo,o restaurante japonês do final de semana...tudo é grande!
As conquistas são assim: grandes demais.
Essa grandeza se resume nas pequenas maravilhas do agora.
É preciso atentar que o grande passa a ser imensurável e inatingível quando me distancio do que eu, de fato, posso e deixo me aproximar de tudo o que não faz parte de mim.
A gente se perde procurando o que não é compatível com o processo da nossa existência - com o processo que é meu. É o equilíbrio do que eu sou, do que eu tenho e do que eu sei saber querer.
Durante o meu processo, várias alternativas são mostradas num lindo cartão.
É preciso o discernimento para escolher as melhores fotos e transferi-las para o grande ou pequeno fato da vida. E olhe que são
muitos! Absurdamente muitos. E rápidos.
A Vida é infinitamente imensurável e me dou conta do pequeno ser que sou perante Deus.
Afinal, pequeno ou grande, o tamanho é ilusório, porque se revela no momento que existe. Mais alguns instantes e passo a remanejar todos os fatos e vê-los com outros formatos, com novas cores e sentimentos que passam a explodir dentro de mim.
Para todos os efeitos,tudo o que eu vivo tem que ser maravilhoso, lindo.
E aí, sim...grande.

Helyete Santos