Nem sempre as aparências enganam. Afinal, seria muito teatro fazer as cenas exaladas de tanto carinho para um público que não via, nem aplaudia os atores.
O fundo eram bancos de um consultório médico, onde um casal de idade bem avançada aguardava sua vez para o atendimento.
Ele, um homem bem vestido, apoiava-se numa bengala e ela simples, numa saia e blusa quase coordenadas. Comparavam suas receitas e não se davam conta de que eu os observava.
Num certo momento ela começou a acariciar a manga da camisa dele, com tanto carinho, que me comoveu. Era como se ela quisesse passar as mãos em todo o seu corpo, mas como não era possível, só aquele espaço já lhe era suficiente. Suas mãos corriam presas ao espaço pequeno e seus olhos mergulhavam amor e esperança.
Logo ele foi chamado e ela também, mas para salas diferentes. Minutos depois retornaram, conferiram suas receitas, entreolhando-se com carinho e deram-se as mãos. Não é preciso dizer que partiram de mãos dadas, a passos pequenos, ignorando toda a plateia.
Tive vontade de aplaudi-los. Mostraram que a vida deles só interessa, de fato, a eles. Sem bandeiras, sem alardes de conquistas, nem brasões de importância.
É fato que devem ter tido muitas dores e infortúnios, muitos amores e grandes dissabores, muitas cenas de sonhos maravilhosos e choros de arrependimento. Mas o importante é que continuam as cenas de amor.
Helyete Santos
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